Neste momento, nada vi. Abaixei a cabeça na hora em que o juiz apitou a falta. Tremia como se um ente querido estivesse à beira da morte. Esqueci de tudo e de todos. Éramos o chão no qual eu estava sentado, a mesa na qual apoiava as costas e eu. O som da televisão sumiu. Além de cego, eu estava surdo e mudo. Tinha 12 anos e, embora parecesse que eu estivesse na sala, não estava. Eu estava naquele maracanã lotado, disso tenho certeza. Fui mais um, dentre milhares, que ajudou aquela bola a entrar.
As mãos tapavam o meu rosto e, dentro de toda a minha introspecção momentânea, sabia que apenas sairia dessa condição quando uma voz confiável me acordasse, quando o destino da jogada fosse acusado por alguém que estivesse, de alguma forma, compartilhando aquela angústia comigo; o quadro com o escudo do Flamengo na parede e o nome bordado “Nelson”, acusaria de quem vinha minha resposta.
Este homem era o meu falecido avô. Era um capixaba que teve poucas oportunidades na vida, mas que diante disso, ao invés de recrudescer completamente, soube – mesmo que do seu jeito peculiar – amar.
Foram segundos eternos e eu não soube o que houve, não comemorei de forma espontânea, assim que o gol saiu. Eu era um menino imerso nos mais profundos questionamentos - aqueles que estão além da maturidade de uma criança - e tudo isso era provocado pelo futebol. O meu transe era profundo e tudo naquele momento era ruído até que vovô, como os hipnotizadores quando acordam suas vítimas, simples como era o seu jeito, despertou-me: - GOL! Gritou ele. E as três letras romperam e rasgaram os meus sentidos, multiplicando-se em centenas de sensações que nunca me haviam chegado. De um salto o menino se fez gigante. Bradou uma voz que podia ser ouvida na Ásia e na Oceania com muita facilidade. O grito de gol só foi interrompido pelo instante posterior, que não levou mais que ¾ de segundo para acontecer.
Naquele dia 27 de Maio de 2001, aos 43 minutos do 2º tempo, a lágrima abre-alas mostrava o quão lindo e intenso era aquele carnaval de sentimentos Rubro-Negros. O abraço comovido, sincero e acolhedor de meu avô naquele dia é uma das maiores lembranças que eu guardo comigo. Chorei como se fosse a última vez que iria fazê-lo e tive naquela cena o melhor companheiro de lágrimas que um dia pude ter.
Obrigado, PET! Obrigado, Flamengo! E parabéns à imensa nação pelos 10 anos de um dos mais emocionantes títulos de nossa história.
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